VOCÊ É ESCRAVO DO RELÓGIO?
Os ritmos da vida variam nas estações existenciais. Ouvimos as fortes palavras do Eclesiastes: "Para tudo há uma ocasião certa; há tempo certo para cada propósito debaixo do céu" (Ec 3.1). Mas como compreender tal ponderação considerando nosso contexto atual?Hoje em dia, um dos comentários mais comuns é sobre a falta de tempo para o muito que se gostaria de fazer. É fácil constatar os efeitos da má administração do tempo diante das pressões e desejos que nos alimentam. Em geral somos apressados, estressados e pouco saudáveis. Por esses dias um comentário do escritor e colunista do jornal Folha de S. Paulo, Carlos Heitor Cony, me chamou a atenção. Ele diz: "Continuo indeciso diante do universo virtual... embora utilize da internet diariamente, continuo achando que ela é poluidora, não no sentido ecológico, mas espiritual. Dá informações demais, excessivas, inúteis e redundantes. Mesmo a comunicação por e-mail, que aboliu o fax, o telegrama e a carta postal, transformou-se numa correspondência cultural e afetiva maciça e nem sempre sincera, refletida e consciente. [...] Como a roda, a internet apenas nos facilita o caminho. Mas não nos aponta um destino".Mais do que aprofundar questões a respeito do mundo virtual, das influências da internet, teorias, temores e dúvidas; proponho considerarmos expectativas e frustrações, escolhas e posturas. Além do mais, talvez, como diz o economista e professor universitário Tyler Cowen, "a questão não é informação de mais, é filtragem de menos". Ou seja, é preciso pensar mais e melhor sobre quem está diante da máquina.Se não sabemos selecionar, ponderar mais adequadamente, refletir com maior cuidado antes de fazermos escolhas, é grande a possibilidade de sermos poluídos espiritualmente. E tal poluição contínua pode trazer desagradáveis e perigosas influências para nossa vida.
Como expressa o cantor Lenine, em sua linda canção:"PACIÊNCIA".
Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Somos meras presas do relógio que, com seus ponteiros, apontam nossa escravidão e despertam chibatadas em nossa consciência?
Em que gastamos nosso tempo, em que investimos nossa vida? Como dizia o renomado rabino, Abraham Joshua Heschel: "Há um reino do tempo em que a meta não é ter, mas ser; não possuir, mas dar, não controlar, mas partilhar, não submeter, mas estar de acordo.
A vida vai mal quando o controle do espaço, a aquisição de coisas do espaço, torna-se nossa única preocupação". Qual a qualidade de nossa vida, então?
A caminhada com Cristo nos ajuda a atentar e refletir muito mais a respeito de detalhes, outrora desapercebidos.
É a sensibilidade que o Reino de Deus promove em cada um dos seus.Gosto de uma conclusão simples, porém poderosa, colocada pelo pastor Ed René Kivitz ao comentar Eclesiastes:
"Viva longe de Deus e viverá longe de si mesmo; viva apenas para si mesmo e nem isso você conseguirá. O caminho cristão para a felicidade é aquele em que a palavra 'prazer' cabe na mesma frase que a palavra "Deus".
Há uma certa cultura da quietude que a vida de Jesus nos inspira e ensina. Ela pode ser um tratamento para a "patologia da pressa". Pode haver uma conversão mais profunda para aqueles que decidem parar e ouvir a Deus, silenciar e contemplar a presença divina, e substancialmente perceber-se pobre, perdido, desestruturado diante do Criador que tudo fez bem, com perfeição, no seu devido tempo. E sabendo o tempo certo, celebrou e ensinou a celebrar; parou e ensinou a parar; e em Cristo viveu e mostrou como viver. Que os propósitos sejam compreendidos com maior profundidade em pausas na companhia de Deus. Que o silêncio meditativo, para além da pedagogia que ele pode trazer, trate nossas entranhas por se saber partilhado em Deus.
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